Um estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz apontou dados alarmantes: uma em cada quatro brasileiras apresenta sintomas de depressão pós-parto. O quadro, cada dia mais comum entre as recém-mamães, impede as mulheres de aproveitarem com plenitude uma das fases mais importantes de suas vidas: a chegada de um filho.
A gravidez e a chegada de um bebê na família são, em tese, um dos períodos mais felizes na vida de qualquer mulher. Mas a realidade nem sempre é tão positiva assim. Um artigo publicado no National Library of Medicine apontou que cerca de 80% das recém-mamães apresentam significativas alterações de humor no período pós parto
A reação é extremamente normal e tem nome: é chamada de Baby Blues. Ela acontece devido a combinação de fatores físicos e emocionais, como a insegurança e o medo provenientes da sensação de ser incapaz de cuidar do próprio filho, além do estranhamento com o corpo (que não tem as mesmas formas da gravidez, tampouco as de antes da gestação) e o cansaço.
O período tem duração máxima de um mês e é considerado como uma crise adaptativa da maternidade, representando o fim da gravidez psíquica: quando a mãe percebe (e precisa aceitar) que o bebê não faz mais parte do seu corpo, que é um ser separado dela.
A aceitação acontece de forma progressiva e a fragilidade das recém-mamães tende a diminuir ao longo dos dias, dando lugar à felicidade de estar, finalmente, ao lado do seu filho.
Entretanto, não é sempre que isso acontece. Em algumas mulheres, os sentimentos do Baby Blues não cedem ao longo do tempo e podem até piorar, desencadeando a depressão pós-parto – quadro que compromete 25% das mães brasileiras, de acordo com um estudo feito pela Fundação Oswaldo Cruz.
Tristeza profunda, mudanças de humor severas, alterações no sono e no apetite, indisposição para realizar as atividades da rotina e dificuldade para desenvolver laços com o bebê são alguns dos sintomas, que podem aparecer em intensidades variadas e não têm uma causa específica – acontecem devido a diversos motivos.
O que predispõe à depressão pós-parto?
Um artigo publicado pelo Nursing Research apontou alguns fatores agravantes à depressão pós-parto, que acontece em mulheres de todas as idades e classes sociais.
Histórico de depressão, transtornos afetivos, falta de suporte familiar, desarmonia conjugal, comportamento do bebê, gravidez indesejada ou de risco e problemas de ansiedade e estresse são alguns causadores do quadro.
Entretanto, as principais causas da depressão pós-parto estão relacionadas às mudanças hormonais e a autoestima da mulher, que precisa lidar com as consequências corporais vindas com a gestação (como flacidez, estrias e sobrepeso) e, com as responsabilidades que um recém-nascido traz, acabam não tendo tempo para cuidarem de si.
A questão hormonal
Quem é mulher sabe: as pequenas alterações nos níveis de hormônios que acontecem antes da menstruação são capazes de afetar o humor de forma intensa, resultando na incômoda TPM. Após a gestação, as alterações acontecem de forma muito maior e podem ser responsáveis por agravar o quadro de quem já tem predisposição a desenvolver depressão pós-parto.
Isso acontece porque, quando uma mulher engravida, a quantidade de estrogênio e progesterona aumenta drasticamente. É por isso que as futuras mamães sentem enjoos constantes, surtos de calor e oscilações de humor – tudo consequência das alterações hormonais.
Após o parto, o nível desses hormônios cai radicalmente e resulta em oscilações de humor ainda maiores, levando a momentos de intensa tristeza, ansiedade, insegurança, medo e por aí vai.
Quais são os sintomas da depressão pós-parto?
O medo da novidade, a insegurança para cuidar do filho, o desânimo e a ansiedade que aparecem nos primeiros dias após o nascimento do bebê não são, a princípio, sintomas de depressão pós-parto – contanto que não permaneçam por mais de 30 dias.
O quadro, como já mencionado anteriormente, é chamado de Baby Blues e é extremamente comum: trata-se do período de adaptação da maternidade e, apesar de ser extremamente sofrido para algumas mães, não traz consequências negativas a longo prazo e termina espontaneamente antes do bebê completar um mês de vida.
Se os sintomas do Baby Blues não cessarem ou amenizarem ou longo das primeiras semanas após o fim da gestação, o quadro já pode ser considerado como depressão pós-parto e as mães devem buscar ajuda.
A doença pode aparecer logo após o nascimento do bebê ou até seis meses depois, em diferentes níveis de intensidade.
Os sintomas mais comuns, citados em um artigo publicado pela revista Pediatria Moderna, são:
- Irritabilidade
- Mudanças bruscas de humor
- Indisposição e cansaço
- Tristeza profunda
- Sensação de incapacidade para cuidar do bebê
- Desinteresse e dificuldade de criar laços com o filho
- Distúrbios de sono (insônia ou hipersonia)
- Alterações no apetite
- Afastamento da família e amigos
- Perda da vaidade
- Dificuldade de concentração
- Ansiedade
- Sentimento de culpa, vergonha e inadequação
Se os sintomas forem frequentes e não diminuírem com o tempo, é importante que a mulher busque ajuda profissional.
Sinais de alerta
A depressão pós-parto acontece em diferentes intensidades e os casos mais severos requerem uma atenção especial. Ao menor sinal de agressividade, ataques de pânico, pensamentos sobre suicídio ou sobre machucar o bebê, alucinações, delírios e outros quadros de psicose, é crucial buscar ajuda profissional IMEDIATA.
Quadros de depressão pós-parto podem ser revertidos com algumas mudanças de hábito, que ainda serão explicadas no artigo. Entretanto, em casos mais graves, como os que apresentam os sintomas descritos acima, o auxílio de medicação pode ser necessário.
É importante consultar um especialista o quanto antes. O diagnóstico precoce é fundamental para que o tratamento ocorra da melhor maneira possível, além de prevenir maiores danos à mãe e ao bebê.
O sofrimento não é só materno
As consequências da depressão pós-parto não afetam apenas as mães. Os filhos também sofrem com o quadro e os prejuízos vão muito além dos primeiros meses de vida.
Isso foi mostrado em um estudo publicado no JAMA Psychiatry, que concluiu que as crianças mais propensas a desenvolverem transtornos psicológicos e problemas comportamentais durante a infância são aquelas cujas mães apresentaram sintomas de depressão pós-parto.
Além disso, um artigo publicado na revista Clinical Obstetrics & Gynaecology mostrou significativas alterações no desenvolvimento neurológico e cognitivo que acompanha os pequenos até a adolescência.
Isso faz com que a busca pelo tratamento adequado seja ainda mais importante. O quanto antes a mãe for curada, menos chances seus filhos têm de apresentar complicações futuras.
Depressão pós-parto tem cura?
Um estudo feito pela North Carolina State University, nos Estados Unidos, mostrou que grande parte das mulheres que apresentam sintomas de depressão pós-parto não procuram ajuda profissional adequada.
O que é um grande erro! A depressão pós-parto tem cura e o tratamento, caso seja feito ao início dos primeiros sintomas, é simples e pode ser feito sem ajuda de medicamentos controlados.
Apoio familiar, grupos terapêuticos com mães que estão na mesma situação, prática de exercícios físicos e yoga podem ser caminhos para reverter a doença. As últimas duas opções podem ser usadas, inclusive, como prevenção, já que são responsáveis por liberar endorfina, o hormônio do bem-estar, no organismo.
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Quando procurar ajuda?
A depressão pós-parto pode acontecer em diferentes intensidades e pode ser agravada com o tempo. Por isso, é indispensável que a mãe (ou a família) busque ajuda profissional ao aparecimento dos primeiros sintomas.
Depressão pós-parto não é frescura, não é culpa da mãe e pode acontecer com qualquer mulher. O transtorno é comum e tem tratamento. Quanto antes for tratado, mais tempo as mamães terão para aproveitar com plenitude os primeiros meses de vida do seu filho – fase de descobertas extremamente importantes que precisam ser vividas da melhor maneira possível.